As influências japonesas nos assassinos de Dead by Daylight

Quem não ama um jogo de terror? Lançado em 2016 pela empresa canadense Behavior Interactive, Dead by Daylight é um jogo multiplayer que inovou em sua dinâmica, permitindo que os jogadores assumissem dois papéis.

Em um misterioso mundo controlado pela Entidade, quatro sobreviventes são enviados para mapas aleatórios e devem reparar cinco geradores para energizar os portões de saída. Cada sobrevivente conta com três habilidades exclusivas, que, posteriormente, podem ser compartilhadas com outros sobreviventes do mesmo jogador. Essas habilidades devem ser sabiamente combinadas em uma build de 4 slots, fornecendo vantagens que ajudem o sobrevivente e seu time a escaparem. Ainda é possível obter itens, como lanternas, kits médicos, caixas de ferramentas, mini explosivos, dentre outros

Enquanto assassino, o jogador tem a missão de sacrificar os quatro sobreviventes para a Entidade, impedindo que reparem os geradores e escapem. Embora também tenham 4 slots disponíveis para construir builds, diferentemente dos sobreviventes, cada assassino possui também com um poder único e que não pode ser compartilhado.

Principalmente na elaboração dos assassinos, o time de criação da Behavior buscou referências em várias culturas, inclusive na japonesa. É um jogo que eu jogo todo final de semana, em especial por poder jogar com mais 3 amigos e formar um time de sobreviventes (que chamamos de SWF, survivor with friends). Embora DBD tenha sim alguns problemas, acho belíssimo o trabalho no desenvolvimento dos assassinos, dos sobreviventes e dos mapas, nitidamente feitos após uma intensa pesquisa. Eis, então, o que a Behavior elaborou a partir da cultura japonesa para alguns assassinos:

Spirit (Rin Yamaoka)

Foi introduzida no jogo em setembro de 2018. É considerada uma das melhores assassinas de DBD, com um poder de se mover de um lugar a outro (phase-walking) sem ser detectada. Antes de assumir a forma de Spirit, Rin Yamaoka era apenas uma jovem normal, filha única e estudante de Comunicação na Universidade de Takamatsu. Seu pai, afundado em dívidas, assassinou cruelmente a esposa com uma katana, dilacerando-a. Rin, horrorizada, presenciou a cena e tentou fugir, porém, foi pega pelos cabelos e atirada contra um vidro. Com o corpo atravessado pelos cacos, Rin começou a sentir um poder invadir-lhe e fez um voto com a Entidade para parar seu pai. Ao fechar os olhos, transformou-se na temida Spirit. 

Na cultura japonesa, há várias designações para o que chamamos um “espírito” ou “fantasma” em línguas europeias. A Spirit poderia ser entendida como um yūrei (幽霊), isto é, um espírito que tem sua alma transformada após uma morte violenta ou suicídio, não tendo um fim apropriado ou ainda sendo invadido por sentimentos que impedem sua passagem, tais como raiva, vingança ou ciúmes.

A DLC da Spirit veio acompanhada de um mapa com inúmeras inspirações no Japão, a Propriedade dos Yamaoka, que possui uma derivação chamada Santuário da Ira.

Oni (Kazan Yamaoka)

Foi adicionado ao jogo em dezembro de 2019. Seu poder é baseado nos ferimentos dos sobreviventes, que passam a emanar orbes que transformavam o Oni em um demônio veloz, raivoso e bastante forte. Kanzan viveu no Japão durante o declínio da cultura samurai, em que impostores se passavam por guerreiros e, na visão dele, manchavam a honra dos verdadeiros samurais. Matando-os sem piedade, Kanzan passou a ser temido e foi apelidado “Oni Yamaoka, o samurai furioso”. Sentindo-se humilhado, assassinou cruelmente todos que assim o chamaram, acabando por matar seu próprio pai durante uma incursão para o castelo do daimyō que outrora descreditara o nome dos Yamaoka. Perdido e amargurado, Kanzan executou o daimyō e sua legião de samurais, contudo, isso provocou a ira da população, que aparece em grande número e consegue derrotar Kanzan, esfaqueado e torturado até ouvir o chamado da Entidade.

Oni é um antepassado paterno de Spirit, o que faz sentido pela forma como o pai de Rin assassina a esposa (com uma katana). Toda sua aparência é um misto de samurai e demônio (oni 鬼, em japonês), sendo sua conduta uma elevação exponencial do “código de honra samurai” (Bushidō 武士道), que ultrapassa os limites da razoabilidade conforme Kanzan se deixa tomar pela vaidade e pela raiva.

Sadako Yamamura (A Onryō)

É a mais recente assassina de DBD, tendo sido disponibilizada em março de 2022. É também uma espécie de fantasma, com sua alma dividida pelo poder do nensha (念写). Foi baseada na personagem do célebre longa-metragem japonês Ringu (リング, 1998), que recebeu uma adaptação igualmente conhecida no Ocidente por O Chamado, sendo a Onryō então chamada de Samara (O Chamado, 2002). O poder do nensha concede habilidades psíquicas, a capacidade de ver o futuro e o passado, bem como de enxergar fantasmas, podendo ser usado para proteger ou então para matar, como é o caso da Onryō.

Na verdade, um onryō (怨霊) é um tipo de yūrei, mas considerado extremamente vingativo e tomado pela fúria, interferindo no mundo dos vivos para dizimar seus inimigos ou causar desastres de várias ordens. Desse ponto de vista, a Spirit também é um onryō. 

O mais legal no jogo é que televisões estão distribuídas pelo mapa e Sadako pode se teletransportar entre elas, conferindo o status de condenado aos sobreviventes que estão por perto. Quando chegam ao nível máximo de condenado, podem ser mortos unicamente pelo olhar da Onryō. Uma maneira de diminuir o status de condenado é retirar as fitas das TVs, desligando-as. Mas é preciso tomar cuidado, pois Sadako tem uma forma desmaterializada, ficando completamente indetectável até se materializar e atingir rapidamente seu alvo. Uma referência muito bacana aos filmes, né? E ainda temos o sobrevivente lançado junto da DLC, Yōichi Asakawa, aqui na versão adulta!

Pelos trailers, pode parecer que DBD é um super jogo de terror, mas, particularmente, acho bem razoável e olha que sou todo medroso quando o assunto é filme de terror/suspense! É claro que tomamos muitos sustos (o famoso jump scare) quando assassinos como a Spirit, Sadako, Ghostface e Michael Myers aparecem simplesmente do nada e nos acertam, mas nossos vizinhos que lutem para aguentar os gritos, não é mesmo? haha

Em outro post, quero trazer os sobreviventes que são japoneses e também a inspiração no kpop para criar um dos assassinos. Vocês gostariam de ver? Deixem nos comentários!

Texto originalmente publicado pelo autor no Portal JAPONI.