Sow it and let it grow: o outono/inverno 2022-23 da Issey Miyake

Não é coincidência que haja várias discussões envolvendo a importância da natureza na arte e na cultura japonesa, pois, de fato, vemos muitos exemplos de como o próprio funcionamento e formas naturais servem como ponto de partida para a produção artística ou para dinâmicas culturais.

É o caso do outono/inverno 2022-23 da Issey Miyake, assinado por Satoshi Kondo e apresentado durante a Semana de Moda de Paris na última sexta-feira, 04/03. No formato de um fashion film dirigido por Yuichi Kodama, Kondo olhou para “a natureza silvestre das plantas e a beleza de suas formas, explorando o crescimento de uma semente germinando e se desenvolvendo em raízes e brotos, para fora da terra e em direção à luz”, conforme relatado no site da marca. 

O nome da coleção – Sow it and Let it Grow (“Semeie e deixe crescer”) – simboliza essa alusão, evocada não só nas belíssimas estampas de linhas orgânicas que conduzem o olhar e a percepção das peças ou nos tingimentos inspirados em frutas e vegetais (como o kiwi e a beterraba), mas também na mise en scène de Kodama, que inseriu takes de modelos colidindo com as paredes e se espalhando rapidamente como sementes que se disseminam. É interessante notar que a maior parte do curta-metragem acontece dentro de um espaço retangular que entendemos estar localizado no subterrâneo, com transições em que os modelos sobem uma escada até, no final, alcançarem a superfície iluminada por fortes raios solares. Também é pertinente ver que são desfilados primeiramente os itens em tons mais escuros e/ou monocromáticos, então passando para aqueles que possuem estampas coloridas até culminar nos vestidos, jaquetas, casacos e sobretudos completamente coloridos e bastante ousados.

Assisti e comentei essa apresentação durante uma live na Twitch sexta-feira à noite, tendo dito que chamou a minha atenção a forma como Kondo consegue evidenciar seu design enquanto se mantém fiel ao DNA da Issey Miyake. As modelagens, as paletas de cores, o styling e a beleza estão alinhados, são modernos e transmitem um ar de praticidade que, como sabemos, é um princípio muitíssimo caro a Miyake desde seu primeiro desfile em 1971. Da mesma forma, plissados bem posicionados, peças quase sem costura e brincadeiras entre o bidimensional e o tridimensional que, temporada após temporada, aparecem e são reinventados de maneiras criativas, na “Sow it and Let it Grow” são empregados em uma diversidade interessante de modelos, incluindo homens e mulheres. Nos tingimentos, outro ponto forte da Issey Miyake, novamente um resgate de técnicas tradicionais japonesas como hikizome (tingimento feito à mão) e shiborizome (uma espécie de tie-dye), executadas por artesãos, em conjunção com os métodos tecnológicos de finalização desenvolvidos pela empresa.

Os sobretudos são uma parte da coleção que, certamente, merecem ser comentados. Durante a live, foi unânime a paixão pelas cores escolhidas, pelos cortes precisos e pelas estruturações que fazem com que as peças se diferenciem de um sobretudo comum. Mas, pessoalmente, elenco os artigos da série “LAYER OVER”, apresentados em tons maravilhosos de laranja e de roxo. Construídos a partir de pedaços retangulares de tecido, foram confeccionados de modo a criar um drapeado natural e assimétrico na região do pescoço.

A explicação completa sobre cada uma das séries pode ser encontrada no site da Issey Miyake (em inglês), bem como as fotos de todos os looks. Mas, como de costume, deixo vocês com o vídeo do desfile e, depois que vocês assistirem, quero saber o que acharam!

Texto originalmente publicado pelo autor no Portal JAPONI.


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