Já passados cinco anos desde seu lançamento, fazer uma resenha sobre Your Name não é uma tarefa fácil. Isso porque na posição da terceira animação com a maior bilheteria da história, tudo o que podia ser escrito e falado sobre essa produção de Makoto Shinkai já foi feito.
Hoje, então, para além de simplesmente resumir o enredo, minha intenção é explorar algumas particularidades que me chamaram atenção e que fizeram com que esse se tornasse um dos meus filmes preferidos, inclusive, tendo sido o objeto do meu primeiro (e abandonado) rascunho de projeto para o mestrado.
Toda a história de Your Name gira no entorno de Taki Tachibana, um garoto comum que vive em Tóquio, e Mitsuha Miyamizu, uma adolescente habitante de Itomori, uma cidade minúscula no interior do Japão. Certo dia, ambos começam a trocar de corpos, um artifício clichê no cinema, já usado à exaustão. Contudo, sem focar o andamento do plot nas surpresas advindas dessa situação inusitada – que, contudo, rende boas risadas e momentos de descontração –, o roteiro de Shinkai é muito mais voltado para as curiosas investidas do destino e para o desenvolvimento da relação entre Taki e Mitsuha que, se eram dois estranhos no começo, aos poucos descobrem aspectos da vida um do outro que completam parte do vazio que sentiam anteriormente.
É claro que por ter como público-alvo adolescentes e jovens adultos, o caráter filosófico/existencialista de Your Name é diluído em cenas de Mitsuha (no corpo de Taki) se divertindo com os amigos do garoto em paisagens que mostram uma Tóquio enérgica, tecnológica, cosmopolita, em contraste com a intimista Itomori, repleta de árvores, lagos, montanhas e sons de insetos típicos do verão japonês. Se para uma garota interiorana estar em uma das maiores cidades do mundo é uma forma de encontrar a si mesma, para Taki também trata-se de entender um pouco mais sobre as tradições religiosas e espirituais nipônicas, uma vez que a família materna de Mitsuha faz parte de uma linhagem de sacerdotisas. Conhecidas por tecerem fios coloridos, essas mulheres possuem capacidades que vão muito além das danças ritualísticas e do polêmico kuchikamizake (sake fermentado a partir da saliva humana).
A melhor cena, para mim, é a em que a avó de Mitsuha, o estereótipo da idosa sábia, contemplativa e misteriosa, fala para Taki (no corpo da menina) sobre o significado de musubi:
Entrelaçar fios também é chamado de musubi. As ligações entre as pessoas também. Até mesmo o fluxo do tempo é musubi. Para todas essas coisas pode ser usada essa palavra. É tanto o nome do deus como o seu poder. Por isso, os fios trançados que fazemos são uma obra divina e representam o próprio fluxo do tempo. […] Os fios vão se juntando e ganhando forma. Eles se torcem, embaraçam e, às vezes, voltam ao normal. Eles se rompem e se religam. Isso que são os fios trançados. Isso é o tempo. Isso é musubi.
SHINKAI, Makoto. Your name. Tradução de Karen Kazumi Hayashida. Campinas: Verus, 2019, p. 65.
Muito além de um simples sermão, a idosa amarra (risos) com essas palavras toda a narrativa, para os olhos atentos. Your Name é sobre ressignificar conexões, seja com as pessoas, com o lugar em que vivemos, com a natureza e mesmo com nossa própria existência. Longe de ser só mais uma animação para o jovem público, podemos extrair dessa obra reflexões poderosas e contemporâneas, ainda mais para o atual momento em que nos encontramos, cerceados por uma pandemia e por problemas climáticos que nos forçam a também repensar inúmeras conexões, não é?
Se você ainda não assistiu ao filme, é uma obra que recomendo demais! No mais, deixo um clickbait desse vídeo que reuniu cenas belíssimas de Your Name, acompanhada da canção Sparkle (スパークル) do célebre grupo Radwimps, que também é responsável por outras faixas da trilha sonora do longa.
Texto originalmente publicado pelo autor no Portal JAPONI.
Deixe um comentário